Não digo de verdade cênica, cênico é tudo: inclusive a platéia deve ser cênica, ou deveria, sobretudo por ser um espaço em que o povo/o olho: é olho de platéia.
O frio na barriga, o julgamento próximo, o outro olhar se aproxima.
E nos detemos nos detalhes: o corpo da atriz, rígido ou tenso, leve, solto, relaxado: quando? Em que momento a máscara facial se retrai mesmo ou há pura técnica, técnica, técnica. A técnica puxa a verdade e vice-versa, como num simples jogo de cordas. E se não há como prever equilíbrio algum entre um e outro, há que se prever efeitos.
Num contexto simples, digo, sem armações tecnológicas, toda a criação pesa nos atores, quase os sufoca, os intimida ou os encoraja. É onde o medo e a coragem estão juntos.
Isto é não está mais perdido.
Não, como antes, se antes estive, agora começo a ter certas certezas: são simples: ali tem uma coisa, ali tem outra coisa, é coisa, e ali tem. São dessas certezas das coisas.
Aqui tem um computador, na arte nem tudo deve ser incerto, nem tudo deve ser general e com paciência e a mínima dedicação ao tempo - porque é questão de tempo - é que nos acumulamos de signos e os resignificamos ou os deixamos a mostra: que significação tu darias?
Posso amarrar todas as cenas e as interrelações de cada minuto, não me garanto à perfeição. Já que, ao meu ver, o teatro é a arte do imperfeito. Faz parte do artista do teatro ter ciência da estética do inacabado e do sempre inesperado.
Ainda que estejamos no universo do drama, do sério, do melancólico: talvez me surpreendesse chegar até a linha do risível, da ironia, do discurso falho do texto, ou melhor, das partes falhas do discurso que o texto induz. Ou o discurso do texto em si, não é discurso.
A experiência cênica, ainda, não é e nem poderia ser rezumida apenas como fictícia. Não se pode dar esse luxo, como num texto escrito.
É experiência carnal.
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