terça-feira, 14 de julho de 2009

diário de romeu


[processos criativos - cena anterior - trecho de monólogo de romeu]


eu dissolveria minha carne, desmembraria meu corpo, extinguiria o sopro de vida para não entrar nesse cruel e estúpido jogo do destino. era um jogo de amor? não era pra ser. e agora deus e diabo esperam um empate. a quem devo satisfazer? queria satisfazer a mim, que sou pequeno. entretanto, nada vale um grão de pedra diante da imensidão das rochas. nada sou além de uma criação de átomos e de matéria selvagem do barro. ah, julieta, fomos feitos disso e acaso ainda me ama depois de voltar ao pó? tenho tanto medo do outro lado, de ser outra vez terra e adubo. tenho medo de não poder ser contigo, de que a memória de mim desapareça de tua alma, de que minha morte nos leve ao ponto zero, ao absoluto que só os heróis encontram. (bem certo que prefiro a covardia de nunca ter sofrido que isto que está diante de mim). de nossa história só restarão duas estátuas, dois mármores fincados que não valem nada. se não pode me amar do outro lado, valeria alguma coisa este discurso que implora e espera por ti? tenho horror ao nada, pois contigo e apenas contigo, eu soube nomear o mundo e conferir sentido à vida ignorante dos homens. deus quis, deus quis que fosse assim. a lei do acaso não me penetra, os dados não gozam o poder do destino. tudo é arquitetura de risco. tudo! até o teu corpo belo que não vive mais, que não viverá mais que as estátuas. tenho medo de dizer: mas eu desejo teu sexo até na morte. violaria teu corpo como em núpcias se tivesse coragem. mas não: quero deste mundo o amor puro que nos foi feito. não quero o barro e o sêmen de uma união grosseira e inglória. quero o amor que ainda existe na névoa deste túmulo. quero a história perpétua de nosso amor efêmero e nevoeiro.

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